sexta-feira, 30 de março de 2012

Léo Matos (por Julio Rezende)

No final de 2011 estava em um congresso de administração na cidade de João Pessoa prestes a apresentar um trabalho sobre o filme "Matrix" onde destacaria a importância da figura do mestre na evolução da consciência dos seus alunos.
Nesse ínterim, ao consultar o smartphone recebi um e-mail com a notícia que o meu mestre principal havia falecido. Fazia quase um ano que não falava com ele, como se ambos nos preservassemos de falar em um assunto que não fosse muito alegre: a condição de seu estado de saúde. Para mim, tratava-se de um mestre porque o percebia como alguém que transmitia uma mensagem transformadora, que mudou a minha vida de modo irreversível. Falava sobre conhecimentos relacionados à revisão e reflexão de minhas emoções.

Esse mestre a que me refiro chama-se Léo Matos. Fiquei triste com a notícia, mas ao mesmo tempo, aceitava a partir da sabedoria aprendida sobre a condição da impermanência que nos rodeia. De certo modo, vinha nesses últimos dias pensando em Léo Matos, tendo até mesmo ligado para ele sem que ninguém atendesse. Presentia que algo houvesse acontecido de um modo estranhamento sensorial.

Léo Matos foi a pessoa que mais influenciou meu comportamento, minha vida. Tenho várias memórias que nunca serão esquecidas e pessoas como ele realmente marcam. Espero praticar seus ensinamentos no meu dia-a-dia, assim tenho certeza que serei alguém melhor.

Convivi 15 anos com Léo Matos participando de seus Workshops em Monte Sião (SP), Recife, Dharamsala na Índia e no estado do Rio Grande do Norte onde era representante da Associação Brasileira de Psicologia Transpessoal (ABPT) tendo oportunidade de organizar treinamentos nas cidades de Natal, Portalegre e Caiçara do Rio dos Ventos (RN).

Importantes decisões em minha vida foram influenciadas a partir dos ensinamentos que tive. A experiência nos treinamentos de Léo Matos me fizeram imaginar e realizar, por exemplo, a criação do Instituto Boa Sorte na cidade de Caiçara do Rio dos Ventos no Rio Grande do Norte, um local criado para ser um centro de treinamento e exploração da consciência. Sua mensagem se referia à importância de sempre estarmos em contato com nossa motivação para empreender algo.

Léo Matos foi um dos pioneiros da psicologia transpessoal no mundo. Recentemente encontrei um vídeo na internet sobre uma palestra de Léo Matos proferida em inglês nos Estados Unidos realizada em 10 de fevereiro de 1982, época na qual já possuia o título de doutor em psicologia na Universidade de Helsink e já então reconhecido e respeitado por outros importantes pesquisadores como o Ronald D. Laing (http://www.youtube.com/watch?v=FiCOazoizjU).

Léo Matos foi um pesquisador que  manteve contato próximo com a Vossa Santidade, o Dalai Lama.  Participou da organização de algumas visitas do religioso ao Brasil e desde a década de 70 mantinha uma amizade pessoal com o Dalai Lama tendo se reunido e organizado várias visitas de brasileiros à residência oficial do Dalai Lama em Dharamsala no noroeste da Índia durante a realização de seus workshops no Himalaia. Léo Matos nos fez perceber a religião e prática do Budismo Tibetano como a mais avançada escola de estudo e experiência da consciência.

Matos todos os anos realizava um treinamento avançado sobre psicologia transpessoal e psicologia tibetano-budista na cidade de Dharamsala. Tive a sorte de participar de dois de seus workshops. A primeira vez em 2003 e a segunda em 2008 quando participei com minha família: minha esposa Uliana e nossas duas filhas: Sofia e Larissa. Uma experiência inesquecível, momento em que fomos expostos a uma cultura diferente e de incomensurável valor. Ele havia me dito naquela época: "essa será a única chance de ir a Índia". Parecia anunciar uma mudança que estaria a acontecer e que algumas oportunidades são únicas, que a possibilidade desse encontro especial na Índia seria único e transformante para mim.

Léo Matos, em sua fase mais produtiva deixou muitas apostilas, artigos e livros sobre psicologia transpessoal, documentos esses que influenciaram terapêutas, pesquisadores e simplesmente pessoas comuns que buscavam no seus escritos uma literatura prática e de transformação pessoal.

Léo, escrevia motivadamente com um estilo literário envolvente que aproximava o leitor das experiências que descrevia nos artigos. Sua forma de redigir lembrava Carlos Castaneda, tão grande é a identificação do leitor com as experiências que são narradas.

Em vista de tudo que falei, considero Léo Matos, sem sombra de dúvida, o psicólogo mais importante da psicologia brasileira. Sua literatura e seus treinamentos contribuiram para muitos indivíduos desenvolverem uma capacidade própria de estar atentos à consciência. Léo Matos contribuiu para a construção de um mundo que ainda veremos. Não um século do cérebro simplesmente, mas uma nova era da consciência que começamos a despertar agora na qual descobriremos a nossa infinitude e nossas inúmeras possibilidades do potencial humano.

A morte de Léo matos serviu para reavivar o meu interesse e a reflexão pelo tema da consciência. Como se servisse para dizer: "não perca tempo!". É urgente sabermos nosso lugar no mundo, a nossa forma de ajudar pessoas, nós próprios e o ambiente. A morte de Léo Matos serve a mim como uma semente para a transformação da sociedade, como se ele tivesse transformado muitas pessoas a  partir de seus ensinamentos e coubesse a mim e outros uma grande responsabilidade pessoal de transformar a vida de outras pessoas.

Se Léo Matos estivesse diria novamente, como fazia nos relatórios entregues no final de cada um dos workshops: "Seus ensinamentos me transformaram. Nunca serei a mesma pessoa. Com certeza sou uma pessoa melhor. Seu legado continuará influenciando minha experiência e procurarei transmitir à medida do possível o conhecimento sobre a natureza transcendente humana a todos e a todos os lugares possíveis.  Obrigado".

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